terça-feira, 8 de julho de 2008

Ler Clarice é...
Teresa Montero
Ler Clarice é viver em permanente estado de paixão. Ler Clarice exige uma mudança de postura do leitor no modo pelo qual ele se aproxima do texto. É que o texto de Clarice pede uma escuta atenta, uma entrega de quem o lê. Clarice fala de coisas presentes no nosso dia-a-dia, o modo pelo qual reagimos aos acontecimentos mais banais, como andar na rua, olhar-se ao espelho ou conversar com um amigo. Ela nos mostra, também, outras coisas vivenciadas interiormente, aqueles momentos sem palavras dos quais só o nosso coração testemunha. Clarice escreve textos como quem vai desvelando a realidade, sondando os gestos, os olhares; tudo tão sutilmente que quando o leitor se dá conta vê-se diante de um instante mágico, especial, ao reconhecer a sua vida, a si mesmo, através daquelas palavras.
Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.
Ao publicar A paixão segundo G.H., Clarice escreveu uma pequena nota introdutória onde pedia que este livro só fosse lido por pessoas de alma já formada. Isso mostra até que ponto pode-se absorver o que o seu texto diz. Ao ler Clarice deve-se estar disposto a aceitar o não entendimento de determinados processos da vida. Clarice dizia: “Suponho que entender não seja uma questão de inteligência, mas uma questão de sentir, de entrar em contato.” Isso faz parte do caminho aberto pelo seu texto. Cada leitor contém a sua bagagem particular de experiências, sensações, acionadas no momento da leitura; Clarice sabe disso e valoriza estas particularidades. Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).
Clarice escreveu crônicas, contos, romances, livros infantis, reportagens, páginas femininas, uma peça teatral, enfim, exercitou-se em diferentes registros de textos, mas imprimiu sua marca em todos eles: o texto interroga, faz o natural parecer sobrenatural, imprime um sentido ainda desconhecido por nós.
Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.

sábado, 28 de junho de 2008

A beleza de amar estar em ser diferente cada dia, em poder dizer eu te amo de formas infinitas, mas verdadeiras, Tenile, você marca meu coração com pegadas de sorriso, você é um sonho onde está meu paraíso, você é minha mulher, quero você !

quarta-feira, 26 de março de 2008


O colecionador de nuvens

Eu perdia muitas coisas, em casa, na rua, no trabalho, onde estivesse eu perdia, parecia um complô do invisível contra mim, tão logo procurava por qualquer coisa, já perdia, isto me envelhecia, me tirava o sono e o amor próprio, logo eu, que tanto amo a vida. Resolvi então parar de procurar, aceitar as perdas e ganhar a liberdade, esta sim me agrada. Cansado das perdas e das coisas desagradáveis, decidi mudar meu estilo de vida.
Tornei-me colecionador de nuvens, nimbos, cirros, extratos, cúmulos, enfim, todas as nuvens eu colecionava na memória, saia de manhã, de tarde e a noite colhendo as mais belas nuvens, assim que as via pronto, as guardava na memória e no céu, é claro! Fui feliz por muito tempo, ganhei até dinheiro, fazendo palestras sobre nuvens, de tão profundo e detalhando foi meu esmero neste estudo, porém, ainda havia um descontentamento em mim ainda não aceitava as perdas do passado.
Em muitas das minhas andanças no olhar das nuvens vi um avião, que deixava em fumaça por entre as nuvens, a seguinte frase: “Achado e perdidos, venha descobrir o melhor”. O avião ao passar sobre a rua onde eu estava fez chover centenas de milhares de papel picado com os dizeres: “Achados e perdidos, venha já. Rua das lembranças s/n, Vale da Saudade”. Nunca ouvira falar em tal lugar, mas me senti atraído e procurei até encontrar.
Era uma rua pequena, calçada de pedras azuis, onde havia uma lojinha com o nome de: achado e perdidos, colorida como o arco-íris, onde havia umas pessoas simpáticas recebendo quem ali chegasse. Uma senhora procurava uma carta de amor, um senhor, por um cão, outra senhora procurava por saúde, uma menina pela mãe, uma jovem moça procurava por amor, eu procurava por tantas coisas, que já nem sabia por onde começar, um senhor bem velho procurava pela juventude, eu procurava, apenas procurava! Uma atendente perguntou-me o que procurava? Respondi-lhe que procurava, apenas procurava, ela então me apresentou um rapaz para tirar minhas dúvidas cujo nome era Achou, perguntei o que Achou estava fazendo ali, ele não sabia, Achou estava perdido, havia sido deixado desde garoto nas ruas de sua cidade. Também havia um homem chamado Sumiu, que não sabia de nada nem de ninguém, perguntaram-me por meu nome, eu preferi ser conhecido como Procurando, todos então passaram a me mostrar várias coisas na esperança de me ajudar.
Foi um verdadeiro encontro, eu olhava as prateleiras cheias de objetos perdidos, tudo ali, pronto para ser entregue, apenas pelo preço da busca, disseram –me que quanto maior uma busca mais caro se torna um achado. As minhas douradas meias de garoto, meu bonequinho cow boy, minha boina, enfim tudo que havia perdido estava ali diante de mim, mas eu não queria mais, pois aqueles objetos perderam-se nos momentos do passado.
A loja era um verdadeiro arco-íris dos achados, de cores e de brilhos, surpresas e saudade. O interessante era os achados. A senhora que procurava a carta achou, o cão foi achado; a saúde tinha acabado, o amor havia se renovado e a juventude estava na mente, tudo se resolvia, menos a solidão que eu sentia, eu a possuía, queria me livrar, mas não ali, eu era um colecionador de nuvens, eu as guardava no céu e na memória. Sumiu me chamou para dizer que havia feito um amigo, conheceu Achou com quem iria conversar muito.” Procurando, você encontrou o que queria?” Me perguntou o amigo Sumiu, lhe respondi que sim, mas que deixaria tudo ali, não queria mais. Falei sobre minha coleção de nuvens, todos ficaram encantados à medida que ia descrevendo-as.Naquele dia fui à praia, pra colocar dentro de uma garrafa de vidro uma carta para Deus, agradecendo-Lhe por minha coleção e por meu bem estar.
Eu nunca mais perdi nada, eu nunca mais procurei por nada, eu guardo minhas nuvens no céu, eu aprendia não ser só, eu tenho as nuvens que se transformam em vários formatos e em coração me torna feliz e completo.



Leddo Domus

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Oráculo do champanhe



Sempre que chega o fim do ano minha atenção se volta pra o abrir do champanhe, sinto uma alegria quando a tampa sobe como uma bala, é uma sensação inexplicável, sempre que chega o fim do ano eu fico na expectativa do abrir do champanhe. Alguma coisa de compreensão a mais tem neste ato simples. Já vi o abrir da tampa com dificuldade, a tampa não saia por nada, falaram que estava quente, mas não estava, por fim, a tampa saiu sem barulho, o ano que começou foi difícil, só melhorou depois do mês seis. Passei a observar o champanhe, como oráculo do ano novo.
Lembro de tantas vezes que ouvi o barulho do espumante oráculo, também das decepções de não ter ouvido a explosão.
Em uma das vezes, a tampa voou tão espetacularmente, que nunca foi encontrada, o ano foi um dos melhores. O oráculo sempre assusta, pois nunca se tem certeza de suas respostas. No fim do ano passado fiquei sozinho no abrir do champanhe, tentei de todas as formas, mas a tampa não saiu, cortei, e enchi três copos, os estampidos dos fogos e a garrafa cortada, o champanhe gelado, nos copos brancos, a garrafa aberta, só após o esforço, mas aberta, começou o ano.
Leddo Domus